sábado, 26 de junho de 2010

A POESIA VOA

O Poeta que aprisiona
seus versos dentro de gaiolas
é tão culpado
quanto o homem
que cria pássaros dentro de
gavetas

Cezar Ray

segunda-feira, 14 de junho de 2010

A ESPERADA PRIMAVERA

Sentir teu corpo largo de novo,
sentir teu peito aconchegante - peludo
feito aquele grande e onipotente urso
sem sombra, sem medo, sem estorvo.

Sem pensar que possas me destruir
com teus olhos doces e serenos,
ou em um grave urro de puro veneno
que em minha alma rasgada faz estrugir.

Sem pensar em tua fiel natureza,
em teu arquejar estridente;
Que em ti sou a menina sem nobreza
que ama mais do que deveras sente.

Poderia hibernar por todo inverno,
dos momentos indecisos e turbulentos,
dentro de teus braços fortes e ternos
que devagar me entrego e me aposento.

Só para colher ao teu lado
as cores e os risos da primavera,
lambuzar-te do mel imaculado
e morrer de amor, em tua cratera.

Nanda Braga

COMPOSIÇÃO

Meus dedos, feito folhas secas, tremem
e deslizam imperfeitos sobre a palheta.
E as cores que, depositadas na tela feito sêmen,
brotam e compõem magníficas silhuetas.

Meus ossos, tortos feito galhos, estão largados ao chão,
como resíduos daquele longo e intenso anoitecer,
pelos traiçoeiros e ruidosos ventos da outra estação,
sem que pudesse a devastação sazonal prever.

Meu corpo retorcido feito as árvores do Cerrado,
seco e rachado sobre o chão vermelho e quente,
aspira, como nunca, as águas de seu rio triunfado,
molhar a terra mosaicada e fértil, docemente.

Meus olhos, feito gigantescos vaga-lumes,
brilham perdidos dentro das noites escuras e frias
à procura de libélulas que os conduzam ao cume
das manhãs reluzentes e completas de euforias.

Meus pensamentos vazios percorrem o céu
como nuvens vadias, brindam em acrobacias
e fazem das águas a cair um verdadeiro escarcéu
que banha a face e os jardins das farroupilhas.

Meus passos não sabem onde vão chegar,
sabem que percorrem na direção trilhada
das migalhas de pão dos contos de ninar,
às grandes marcas numa mulher – talhada.

Nanda Braga

domingo, 13 de junho de 2010

UROBORUS CONVICTIVA

Certeza geram dúvidas
Dúvidas geram certezas
Perguntas geram respostas
que geram novas certezas.

Sandro E.P. Marschhausen

AMOR FACTRAL

O universo definha em suas bordas
As rebarbas distraem poetas e sábios
Sem saber, o andarilho confere suas cordas
Sem saber, observa-se o desenho dos lábios.

Estrelas silenciam-se na distância
a viola esquece suas notas
feitos, tratos, ímpeto, ânsia
no desenho das folhas que caem mortas.

Uma palavra solta um universo cria
Uma maneira rude planetas consome
num amor que fere: pele seca e fria.

As asas da borboleta batem no pomar
a cor das estações surge e some
permanece, perdura quem veio amar.

Sandro E.P. Marschhausen - 24/02/2008

ÂMAGO

Uma terra herma, vazia e distante
onde as brumas não encontram fendas para soar
o destino segue sem rumos quando nela imerge
o horizonte deixou para trás sua linha

Uma parede de ecos emudecidos
oceano de águas secas
um ar que não se percebe
um piso que não se toca

O desespero entrelaçado em ânimo
agonia professando deleites
A ausência sem sentido

SEN-SA-ÇÂO, que resta e segue
o todo e o nada em passos sem caminho.
Que tal um drink e muito prazer?

Sandro E.P. Marschhausen - 12/06/2010